O futebol brasileiro já tem mais o mesmo brilho de outrora

 


Sim, é uma percepção comum entre muitos torcedores e especialistas que o futebol brasileiro, em sua essência, não exibe mais aquele brilho cativante que o caracterizou por décadas. A magia dos dribles desconcertantes, o gingado inconfundível, a harmonia em campo e a alegria contagiante, marcas registradas do nosso futebol, parecem ter dado lugar a um jogo mais pragmático e, para alguns, menos emocionante.


O Desaparecimento da Malandragem e da Arte

A era de ouro do futebol brasileiro foi marcada por jogadores que pareciam dançar com a bola nos pés. Pense em Pelé, Garrincha, Rivellino, Zico, Ronaldinho Gaúcho. Eles não apenas jogavam; eles se expressavam, criavam arte. Seus dribles não eram apenas movimentos para passar por um adversário, mas uma exibição de talento puro, uma forma de desafiar a lógica e encantar o público. O "gingado" era mais do que um estilo de jogo; era uma filosofia, uma extensão da cultura brasileira em campo. Os jogadores pareciam ter uma conexão inata com a bola, uma liberdade criativa que resultava em jogadas imprevisíveis e belíssimas.

Hoje, embora ainda surjam talentos individuais, a prevalência de táticas rígidas e a busca incessante pela eficiência parecem ter sufocado essa espontaneidade. A pressão por resultados imediatos, a mercantilização do esporte e a exportação precoce de jovens talentos contribuem para que eles desenvolvam um futebol mais "europeu", focado na parte física e tática, muitas vezes em detrimento da criatividade e da ousadia que sempre foram sinônimos do futebol brasileiro. O jogador de hoje, desde cedo, é moldado para ser um atleta completo, e talvez nessa busca pela completude, a "malandragem" e a arte singular se percam um pouco.


A Harmonia e a Alegria Contagiante

Outro ponto que muitos sentem falta é a harmonia coletiva e a alegria genuína que emanava dos times brasileiros. Havia uma espécie de telepatia entre os jogadores, uma sintonia que transformava o conjunto em algo maior do que a soma das partes. As tabelinhas rápidas, os passes de primeira, a forma como se encontravam em campo, tudo isso parecia fluir de forma natural, quase intuitiva. E, claro, a alegria de jogar futebol era evidente. As comemorações eram autênticas, as risadas em campo não eram encenadas, e a paixão pelo jogo era palpável.

Atualmente, embora ainda haja momentos de brilho, a sensação é de que a pressão é tamanha que a leveza e a espontaneidade foram substituídas por uma seriedade excessiva. O ambiente parece mais profissionalizado e menos festivo, o que, de certa forma, afeta a conexão emocional entre os jogadores e, consequentemente, a qualidade do espetáculo.


A Diminuição do Respeito e da Admiração

A saudade do futebol encantador também se reflete na diminuição do respeito e da admiração pelo futebol brasileiro. Houve um tempo em que os olhos do mundo se voltavam para o Brasil em busca de inovação, de novos craques e de um estilo de jogo único. Éramos uma referência, um celeiro inesgotável de talentos que moldavam o esporte globalmente. Nossos jogadores eram ídolos reverenciados, e a camisa amarela inspirava respeito em qualquer canto do planeta.

Hoje, embora o Brasil ainda seja um exportador de talentos, a percepção de um futebol "especial" ou "imbatível" já não é tão forte. A competitividade internacional aumentou, e outras ligas e seleções se desenvolveram, talvez superando em organização e infraestrutura o que por muito tempo foi uma de nossas maiores vantagens: o talento bruto e a paixão inigualável. A adoração incondicional diminuiu, dando lugar a uma análise mais crítica e, por vezes, cética sobre o nosso desempenho.


Saudades do Futebol Encantador

A nostalgia do futebol encantador não é apenas uma visão romântica do passado, mas um lamento pela perda de características que tornaram o futebol brasileiro amado em todo o mundo. Aquele futebol que nos tirava do sofá, que nos fazia vibrar a cada jogada, que enchia os olhos de esperança e orgulho. Aquele futebol em que cada drible era uma promessa, cada passe uma sinfonia e cada gol uma explosão de felicidade.

É um desafio para o futebol brasileiro atual reencontrar essa essência, adaptar-se aos novos tempos sem perder a identidade que o fez tão grandioso. Talvez a resposta esteja em valorizar mais a base, em dar liberdade criativa aos jovens, em resgatar a alegria de jogar e, acima de tudo, em lembrar que o futebol, antes de ser um negócio, é uma arte e uma paixão. Só assim, talvez, o brilho de outrora possa voltar a iluminar nossos gramados e encantar o mundo novamente.

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